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Arlei LimaAnuroopa Banerje

Journey. Da Índia para Campo de Ourique, com passagem pelo mundo

Depois de muitas viagens, Anu escolheu Lisboa para abrir um restaurante onde o mundo se cruza no prato.

Cláudia Lima Carvalho
Escrito por
Cláudia Lima Carvalho
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Olhando para trás, Anuroopa Banerje, ou Anu, nunca se viu na cozinha. Não só não tinha particular fascínio pela área, como nunca cozinhou. “Era uma criança rebelde. Só porque sou uma rapariga, tenho de aprender a fazer pão, arroz e cozinhar? Não queria nada disso.” Hoje, à frente do Journey, que abriu no final de 2023 em Campo de Ourique com a lituana Ksenia Naumova, é difícil imaginá-la de outra forma, tal é a paixão que põe em cada prato.

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Arlei Lima

Nasceu e cresceu na Índia, mas foi a viajar pelo mundo que, aos poucos, foi despertando para o universo gastronómico. “Eu vou ser honesta, sempre amei comer, mas nunca gostei de cozinhar”, diz Anu, entre gargalhadas, contando que acabou por ser o trabalho numa grande empresa de telecomonunicações que a acabou a abrir horizontes por conta das muitas viagens. “Viajei muito e sempre fui influenciada pela comida de diferentes culturas. Quando saí da empresa, vivi uma fase de busca, não sabia bem o que queria, então andei a explorar e a comer. E pensei: isto é muito interessante. Voltei para casa e dei grandes festas, usava ingredientes que tinha descoberto nas viagens e, de alguma forma, as receitas funcionavam”, recorda. 

Mas nem assim Anu se rendeu. “Era encorajada, mas só porque a cozinha era um hobby não tinha de fazer disso a minha vida.” Até ao momento em que tudo mudou. “Numa das minhas viagens, algures em 2013, em Girona, comi num restaurante chamado Massana [uma estrela Michelin] e percebi o impacto que a comida pode ter numa pessoa. Quando estava a comer, pensei imediatamente: quando morrer, esta refeição vai estar nos meus flashbacks. Foi muito catártico”, admite, revelando que foi nessa mesa que decidiu tornar-se chef. “É um legado assim que quero deixar.”

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Arlei Lima

As viagens passaram, então, a ganhar outro significado. Se antes, Anu viajava para comer, agora fazia-o para aprender também. Curiosamente, Portugal foi o destino que se seguiu a essa epifania. “Acho que foi aí que surgiu o sonho de um dia vir abrir um restaurante em Lisboa. É muito cliché e tonto, mas foi o que aconteceu.”

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Arlei LimaCeviche peruano

Entre um acontecimento e o outro, passaram alguns anos, tempo que Anu dedicou à formação, primeiro na Índia, onde começou logo por estagiar num restaurante de hotel.  “Depois fui para a Austrália porque o Masterchef era muito popular e fiz pequenos cursos lá. Voltei para casa e tive uma chamada do Masterchef Índia. Não sei como nem porquê, eu até disse que não fazia muito comida indiana e aparentemente fiquei no top 30. Foi quando percebi que era isto que queria. É um bom selo no currículo e ensinou-me que se entre 16 mil pessoas eu consigo destacar-me, é porque tenho algo em mim”, afirma, debitando algumas das experiências por que passou, de Espanha (no três estrelas Azurmendi) ao Peru (no Mérito, em 59.º na lista do The World’s 50 Best Restaurants).

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Arlei LimaVieira frita em molho de queijo e trufas

Fica mais fácil perceber, assim, o nome do restaurante que abriu em Campo de Ourique com a amiga que conheceu em viagem, precisamente. “Journey é a viagem da minha vida.” Uma viagem com paragens distintas. Quer isto dizer que o menu é bastante ecléctico, feito de conjugações, à primeira vista, improváveis, carregadas de especiarias, não fosse Anu indiana, embora a chef faça questão de alertar que este “não é um restaurante indiano”. 

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Arlei LimaCouve flor com grão de bico e ameixa

Há um caril de peixe no menu, servido com pilaf de passas (14€), e outro de caju com coco e pilaf de manteiga e cominho (14€), mas um dos grandes destaques é o ceviche peruano (11€). Na carta, há espaço ainda para uma vieira frita em molho de queijo e trufas (10€), uma couve flor com grão de bico e ameixa (12€) ou uma bochecha de vaca estufada em chutney de morango e uva (18€). 

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Arlei LimaBochecha de vaca estufada em chutney de morango e uva

Para acompanhar, o foco está nos vinhos naturais, escolhidos por Ksenia.

“Em Campo de Ourique, descobri que ter o mercado aqui é uma benção. Vou lá comprar o peixe. Vou ao talho. Gosto muito dessa parte do meu trabalho”, aponta, destacando como foi bem recebida no bairro. “Eu não conhecia Lisboa, mas sabia que não queria estar num lugar muito turístico”, diz, para Ksenia completar: “Encaixamo-nos muito bem aqui porque queremos ser um espaço pequeno, íntimo e familiar”.

Rua Correia Teles 38A (Campo de Ourique). Ter-Sáb 15.00-23.00

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